Criatividade e goiabada

A goiabada do título. Foto de Eduardo Barbosa

Assisti a um documentário sobre criatividade hoje de manhã e resolvi fazer um bolo para o final de semana. O documentário, baseado no livro homônimo, se chama “Como o cérebro cria” (Netflix), é escrito e apresentado por David Eagleman, um dos autores do livro; o bolo se chama “de fubá com goiabada”, um clássico despretensioso e sem afetação da nossa doçaria.

Qual a relação entre documentário e bolo? Várias. Vale lembrar que muitas das relações que fazemos são extremamente pessoais, feitas de acordo com nossas experiências.

No documentário, Eagleman fala que um dos grandes estímulos à nossa criatividade é a mudança, inclusive a de carreira. Já trabalhei em algumas tantas áreas durante a minha vida, entre elas o magistério e a confeitaria. O magistério veio primeiro, mas eu o deixei e fui para a cozinha fazer trufas e mil-folhas; depois deixei os quitutes, e hoje sou professor novamente.

Ensino e escrevo atualmente (cozinho de vez em quando).

O documentário me fez refletir sobre minha trajetória e perceber que realmente essas mudanças funcionam como aprendizado e estímulo à criatividade: os conhecimentos e habilidades adquiridos e desenvolvidos em uma área podem ser adaptados e utilizados em outra.

Pensando no meu trabalho com a escrita, eu levo para ela a minha experiência na cozinha, que é um tema que costuma aparecer com frequência nos meus textos. Mas não é só uma questão de temática. Gosto de associar o ato de escrever com o de fazer doces. A escolha das matérias-primas, as combinações que faço, meu apreço pela tradição e minha ousadia para criar durante o processo, a finalização, tudo isso está presente tanto na hora em que faço bolo quanto na hora em que escrevo, mas quando cozinho, utilizo ovos, manteiga, açúcar, farinha etc.; quando escrevo, as palavras. Fazer essa relação me ajuda tanto no texto quanto no doce.

Escrevo essas palavras em pé, no supermercado. É um texto rápido, um textexpress, ou uma crônica expressa, ou uma croniquexpress (vou pensar a esse respeito) . Depois que peguei a goiabada para o bolo me deu vontade de escrever. Já me assustei umas duas vezes, pois achei que tinha alguém atrás e bem perto de mim, mas quando me virei era só o totem de tamanho real de um apresentador de TV anunciando uma marca de salsicha.

Enquanto escrevia alguma música tocava e agora uma voz feminina e convincente anuncia as promoções do dia, uma me interessa muito

Escrever o texto nessas condições foi uma forma de sair da tal da zona de conforto, outra coisa importante para exercitar a criatividade (isso também é falado no documentário). Geralmente escrevo em casa, sentado, no meu notebook e no silêncio. Bem diferente de estar apoiado no carrinho de supermercado, digitando ao som de uma música estadunidense dos 80, ouvindo anúncios variados e o burburinho do recinto. Mas foi legal.

Poderia ficar aqui mais um tempo, mas agora preciso ir para o setor de chocolates. É ali que tem a promoção que me interessa.

Eduardo Barbosa


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Comments

3 respostas para “Criatividade e goiabada”.

  1. Avatar de sileamacieira
    sileamacieira

    Um dia, nos idos de 1990, escreveram sobre mim: “poeta dos gestos, bailarina das palavras”.
    Seu texto, e a ideia dos talentos “misturados” somando para a delícia da receita/composição final, trouxeram a doce recordação das palavras de Bia Bedran. Obrigada! Goiabada, bolo, compota, palavras e sons partilhados: não há massa melhor para adoçar o fim de semana!
    Siléa

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    1. Avatar de compotadeletras

      Li, e leio, seus belíssimos balés, e concordo plenamente com a Bia. Não vi você dançado, mas sei que ela está certa. Fico muito feliz que o texto tenha despertado essa lembrança. Obrigado pela leitura. Volte sempre. 🙂❤

      Curtido por 1 pessoa

  2. Avatar de sileamacieira
    sileamacieira

    * leitores do Compota: por favor substituam trouxeram por “trouxe”
    Há há
    Siléa

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